Uma baleia solitária denominada 52blue deambula no oceano enquanto canta uma música. Uma música acompanhada por uma paisagem sonora fantasma. Como suportar a vida sem a presença do outro, da outra, de outrem?
Quando as baleias cantam, cantam para sobreviver, para acasalar, para viajar, para passar o tempo e também para nada. A 52blue, uma espécie "especial" de baleia emite um som de 52 hertz, é um som muito agudo e ninguém suporta ficar em sua companhia. Os seres humanos: o que faz com que as pessoas se afastem umas das outras e não suportem conviver? Nós sabemos, não é? E cantar...Você canta só no chuveiro? Cantar pode ser um pedido de socorro. Relaxamento. Tesão.
Essa performance é feita por um corpo que dança e por outro corpo que toca. De forma solitária. Os dois são essa baleia que jamais poderia viver entre nós, pois não cabe nessa existência. É inadequada. É uma baleia grande, azul, sozinha, cantando um som que não pode ser ouvido.
É triste. É belo. É música que faz chorar.
Francisco Thiago Cavalcanti

Imagem: Jamille Queiroz

Imagem: Jamille Queiroz

Imagem: Jamille Queiroz

Imagem: Jamille Queiroz
ficha artística
performance, criação e direção
Francisco Thiago Cavalcanti
colaboração dramatúrgica e assistência de direção
Piero Ramella
interlocução criativa
António Pocinho Rivotti, Daniel Pizamiglio, Francisca Pinto
mentoria
Ntando Cele, Nadia Beugré
desenho de luz e direção técnica
Luís Moreira
cenografia e figurino
Francisco Thiago Cavalcanti
paisagem sonora
Gustavo Portela
músicas
Vapor Barato (Jards Macalé, Waly Salomão), Tired of Being Alone (Al Green), Love Is a Losing Game (Amy Winehouse), La Strada (Nino Rota)
vídeo
Gustavo Portela/Varanda Criativa
fotografia
Jamille Queiroz
apoio voz e corpo
António Pocinho Rivotti, Laya
produção executiva
Sinara Suzin (Alkantara)
produção
Alkantara
coprodução
Alkantara
apoio
Alkantara, In Ex(ile) Lab – Creative Europe, Santarcangelo Festival/European Festivals Fund For Emerging Artists, La Caldera e Teatro da Voz/Real Pelágio
residências artísticas
Forum Dança, Alkantara, Teatro da Voz, Santarcagelo Dei Teatri, La Caldera, Porto Iracema das Artes, Hub Porto Dragão, Companhia Anagoor/La Conigliera e Centro Cultural do Mestre Peixinho/Ilê do Seu Peixinho
agradecimentos
Vânia Vaz, Bárbara Cordeiro, Sara Paternesi, Yaw Tembe, Walesca Timmen, Isabelle Maciel, Clarissa Rêgo, Javier Cuevas e equipa
Uma realização de Um cavalo disse mamãe
Francisco Thiago Cavalcanti
colaboração dramatúrgica e assistência de direção
Piero Ramella
interlocução criativa
António Pocinho Rivotti, Daniel Pizamiglio, Francisca Pinto
mentoria
Ntando Cele, Nadia Beugré
desenho de luz e direção técnica
Luís Moreira
cenografia e figurino
Francisco Thiago Cavalcanti
paisagem sonora
Gustavo Portela
músicas
Vapor Barato (Jards Macalé, Waly Salomão), Tired of Being Alone (Al Green), Love Is a Losing Game (Amy Winehouse), La Strada (Nino Rota)
vídeo
Gustavo Portela/Varanda Criativa
fotografia
Jamille Queiroz
apoio voz e corpo
António Pocinho Rivotti, Laya
produção executiva
Sinara Suzin (Alkantara)
produção
Alkantara
coprodução
Alkantara
apoio
Alkantara, In Ex(ile) Lab – Creative Europe, Santarcangelo Festival/European Festivals Fund For Emerging Artists, La Caldera e Teatro da Voz/Real Pelágio
residências artísticas
Forum Dança, Alkantara, Teatro da Voz, Santarcagelo Dei Teatri, La Caldera, Porto Iracema das Artes, Hub Porto Dragão, Companhia Anagoor/La Conigliera e Centro Cultural do Mestre Peixinho/Ilê do Seu Peixinho
agradecimentos
Vânia Vaz, Bárbara Cordeiro, Sara Paternesi, Yaw Tembe, Walesca Timmen, Isabelle Maciel, Clarissa Rêgo, Javier Cuevas e equipa
Uma realização de Um cavalo disse mamãe
Uma cartinha de motivação
Pessoas que vão ler isso...
Tenho a sensação que todos os trabalhos que faço ou que vou fazer já existem em minha cabeça ou estão pairando no universo. Acredito que nós buscamos as coisas e as coisas buscam a gente.
Tenho obsessão por baleia desde criança. Assisti ao filme Tubarão do Spielberg e tinha pavor desse peixe sanguinário, o mar era misterioso pra mim. Pelas baleias eu tinha fascínio. Que som é esse que elas produzem? Por que elas cantam? Por que sinto vontade de chorar ou dormir quando escuto isso? As baleias frequentavam meus sonhos. Descobri que as baleias Jubarte migram para o litoral da Bahia para se acasalar. Queria muito ir em Abrolhos na época das baleias, mas nunca tive dinheiro pra isso. A Lia Rodrigues, coreógrafa com quem eu trabalhava no Brasil, esteve em uma reserva ecológica na Colômbia onde ela me disse que quando, pertinho da praia, mergulhava no mar, ouvia o canto das baleias. Fiquei louco!
Às vezes penso que baleia não existe, é como dinossauro ou é um devaneio coletivo. Morando no Rio, uma vez tinha uma baleia encalhada em Ipanema, eu soube e fui lá ver, mas foi horrível, a baleia estava em decomposição e parecia um grande fígado. Não valeu.
Morando em Portugal, tão longe dos meus, decidi fazer uma peça sobre grandes viagens, grandes migrações. Com insônia, tinham duas coisas que me faziam dormir: som de baleia no youtube e um disco calminho da Gal, voz aguda, doce e aconchegante. Eu tenho o espectro do autismo (leve), uma das coisas que me desestabilizam é o som muito alto da sirenes, o toque da sola e do salto de alguns sapatos, o apito de aviso de fechar portas do metrô. A voz da Gal e o som das baleias são um abraço para mim.
Em janeiro de 2023 fiz uma residência de criação da minha nova peça chamada Cantar, em um evento do coreógrafo João Fiadeiro, chamado A pele nômada - 30 anos LAB/Projectos em Movimento. Essa ocasião foi o ponto de partida para eu desenvolver minha pesquisa sobre baleias, migrações, Gal Costa, refugiados, sonhadores, utópicos, piratas, paisagens sonoras, 100 maneiras de deslocar-se no espaço. Fiquei com o desejo também de "performar" sozinho. Pensar no meu autismo, na minha solidão e na minha inadequação. Um trabalho sozinho com um músico massa, chamado 52blue ou 52hertz.
52 hertz é uma frequência sonora absurdamente alta, feita por uma baleia azul que vive solitária no oceano; o som é tão agudo que ninguém consegue ficar perto. Como performar isso? O que isso tem a ver com saudade, falta, solidão?
Esse trabalho foi aprovado pelo projeto In Ex(ile) Lab e terá a produção do Alkantara para que eu possa desenvolvê-lo durante os anos de 2023/24. Eu estou muito feliz de poder estar existindo com os projetos que tenho criado, idealizado, imaginado... Nunca sozinho.
Francisco Thiago Cavalcanti
Francisco Thiago Cavalcanti

Imagem: Jamille Queiroz
english
A lonely whale called 52blue wanders in the ocean while singing a song. A song accompanied by a phantom soundscape. How can we bear life without the presence of the other?
When whales sing, they sing to survive, to mate, to travel, to pass the time and also for nothing. The 52blue, a “special” species of whale, emits a sound of 52 hertz, it's a very high-pitched sound and no one can stand to be in its company. Human beings: what makes people turn away from each other and not bear living together? We know, don't we? And singing...Do you only sing in the shower? Singing can be a cry for help. Relaxation. Desire.
This performance is done by a body that dances and another body that plays. Alone. The two of them are this whale that could never live among us because it doesn't fit into this existence. It's inadequate. It's a big, blue whale, alone, singing a sound that can't be heard.
It's sad. It's beautiful. It's music that makes you cry.
Francisco Thiago Cavalcanti
credits
performance, creation and direction
Francisco Thiago Cavalcanti
dramaturgical collaboration and assistant director
Piero Ramella
creative collaboration
António Pocinho Rivotti, Daniel Pizamiglio, Francisca Pinto
mentoring
Ntando Cele, Nadia Beugré
light design and technical direction
Luís Moreira
scenography and costume design
Francisco Thiago Cavalcanti
soundscape
Gustavo Portela
songs
Vapor Barato (Jards Macalé, Waly Salomão), Tired of Being Alone (Al Green), Love Is a Losing Game (Amy Winehouse), La Strada (Nino Rota)
video
Gustavo Portela/Varanda Criativa
photography
Jamille Queiroz
voice and body support
António Pocinho Rivotti, Laya
executive production
Sinara Suzin (Alkantara)
production
Alkantara
co-production
Alkantara
support
Alkantara, In Ex(ile) Lab - Creative Europe, Santarcangelo Festival/European Festivals Fund For Emerging Artists, La Caldera and Teatro da Voz/Real Pelágio
artistic residencies
Forum Dança, Alkantara, Teatro da Voz, Santarcagelo Dei Teatri, La Caldera, Porto Iracema das Artes, Hub Porto Dragão, Companhia Anagoor/La Conigliera and Centro Cultural do Mestre Peixinho/Ilê do Seu Peixinho
acknowledgements
Vânia Vaz, Bárbara Cordeiro, Sara Paternesi, Yaw Tembe, Walesca Timmen, Isabelle Maciel, Clarissa Rêgo, Javier Cuevas and team
A realization of Um cavalo disse mamãe
Francisco Thiago Cavalcanti
dramaturgical collaboration and assistant director
Piero Ramella
creative collaboration
António Pocinho Rivotti, Daniel Pizamiglio, Francisca Pinto
mentoring
Ntando Cele, Nadia Beugré
light design and technical direction
Luís Moreira
scenography and costume design
Francisco Thiago Cavalcanti
soundscape
Gustavo Portela
songs
Vapor Barato (Jards Macalé, Waly Salomão), Tired of Being Alone (Al Green), Love Is a Losing Game (Amy Winehouse), La Strada (Nino Rota)
video
Gustavo Portela/Varanda Criativa
photography
Jamille Queiroz
voice and body support
António Pocinho Rivotti, Laya
executive production
Sinara Suzin (Alkantara)
production
Alkantara
co-production
Alkantara
support
Alkantara, In Ex(ile) Lab - Creative Europe, Santarcangelo Festival/European Festivals Fund For Emerging Artists, La Caldera and Teatro da Voz/Real Pelágio
artistic residencies
Forum Dança, Alkantara, Teatro da Voz, Santarcagelo Dei Teatri, La Caldera, Porto Iracema das Artes, Hub Porto Dragão, Companhia Anagoor/La Conigliera and Centro Cultural do Mestre Peixinho/Ilê do Seu Peixinho
acknowledgements
Vânia Vaz, Bárbara Cordeiro, Sara Paternesi, Yaw Tembe, Walesca Timmen, Isabelle Maciel, Clarissa Rêgo, Javier Cuevas and team
A realization of Um cavalo disse mamãe
A little motivation latter
People who are going to read this...
I have the feeling that all the work I do or am going to do already exists in my head or is hovering in the universe. I believe that we seek things and things seek us.
I've been obsessed with whales since I was a child. I watched Spielberg's movie Shark and I was terrified of this bloodthirsty fish, the sea was mysterious to me. But the whales fascinated me. What is that sound they make? Why do they sing? Why do I feel like crying or falling asleep when I hear it? Whales inhabited my dreams. I discovered that Jubarte whales migrate to the coast of Bahia to mate. I wanted to go to Abrolhos during whale season, but I could never afford it. Lia Rodrigues, the choreographer I worked with in Brazil, had been to an ecological reserve in Colombia where she told me that when she dived into the sea near the beach, she could hear the whales singing. It blew my mind!
Sometimes I think that whales don't exist, they're like dinosaurs or they're a collective daydream. Living in Rio, once there was a whale stranded in Ipanema, I heard about it and went to see it, but it was horrible, the whale was decomposing and looked like a big liver. It wasn't worth it.
Living in Portugal, so far from my home, I decided to do a play about great journeys, and great migrations. When I had insomnia, two things made me sleep: the sound of whales on YouTube and a quiet album by Gal, her voice high-pitched, sweet, and cozy. I'm on the autism spectrum (mild) and one of the things that destabilizes me is the very loud sound of sirens, the tapping of the shoe soles and heels, and the whistle warning of closing subway doors. Gal's voice and the sound of whales are a hug for me.
In January 2023 I did a residency to create my new piece called Cantar, at an event by choreographer João Fiadeiro entitled A pele nômada - 30 anos LAB/Projectos em Movimento. This occasion was the starting point for me to develop my research into whales, migrations, Gal Costa, refugees, dreamers, utopians, pirates, soundscapes, and 100 ways of traveling in space. I also had the desire to “perform” alone. To think about my autism, my loneliness, and my inadequacy. A solo work with an amazing musician called 52blue or 52hertz.
52 hertz is an absurdly high-pitched sound made by a blue whale that lives alone in the ocean; the sound is so high-pitched that no one can get close. How to perform this? What does it have to do with longing, absence, loneliness?
This work has been approved by the In Ex(ile) Lab project and will be produced by Alkantara so that I can develop it during 2023/24. I'm very happy to be able to exist with the projects I've been creating, idealizing, imagining... Never alone.
Francisco Thiago Cavalcanti